Nas últimas duas
décadas, a Psicologia propôs um amplo debate em torno das políticas públicas de
saúde mental. Particularmente o Movimento Antimanicomial se destaca como ação
política engajada e comprometida com transformação na esfera da saúde pautada,
eminentemente, num paradigma interdisciplinar que passou a reformular as noções
sobre a loucura.
A loucura no período
medieval era representada socialmente como um problema espiritual, uma
possessão demoníaca que demandava rituais religiosos para purificação da alma.
O sujeito considerado “insano” ou “lunático” era excluído da sociedade e
isolado tal como um “leproso”, sendo assim, era flagelado, acorrentado,
escorraçado, pois, em tese, era “possuído pelo demônio”. No fim da Idade Média,
indivíduos com comportamento “desviante”, foram perseguidos, julgados e
queimados vivos seguindo princípios da Santa Inquisição.
A medicina moderna
institucionalizou a loucura como uma patologia de origem biológica no sistema nervoso.
Diante disso, surge uma linguagem adotada no cotidiano que situa o transtorno
mental como uma doença dos nervos. É comum essa noção biológica associada aos
transtornos mentais no vocabulário do dia-a-dia quando, por exemplo, afirmamos
que um sujeito tem “miolo mole”, “sangue quente”, “problema na cabeça”, “nervos
a flor da pele” ou “falta um parafuso na cabeça”.
Ao longo da história
da loucura, muitas formas de tratamento foram adotadas, tais como uso de
sanguessugas, hipnose ou choque eletro-convulsivo. Atualmente, é comum o
tratamento desumano em instituições de saúde mental, por exemplo, na ausência
de cuidados higiene, bem estar coletivo ou estrutura dos prédios, com destaque
para indicação desproporcional de medicação hipnótico-sedativos ou anti-psicóticos.
Em 1987 surge, no
cenário nacional, o Movimento de Luta Antimanicomial propondo novas
alternativas terapêuticas ao indivíduo com transtornos mentais. O início desde
movimento foi amplamente divulgado na imprensa e teve um papel fundamental ao
trazer à tona muitas histórias e imagens da barbárie que acontecia nos antigos
hospícios. Com efeito, este movimento está historicamente ligado à defesa dos
direitos humanos, como também incentiva a militância política e social contra a
violência institucional praticada nos espaços manicomiais.
A
proposta não é apenas tirar o indivíduo do manicômio, soltá-lo nas ruas ou
devolvê-lo para sua casa. É necessária uma ampla estrutura de suporte para
permitir a integração progressiva do individuo a sociedade e à família, bem
como um tratamento psiquiátrico desprovido de doses abusivas de medicamentos.
Segundo Marilene Proença, presidente do atual Conselho Regional de Psicologia –
SP, o grande desafio da Psicologia é tornar efetivo um tratamento da doença
mental embasado numa intervenção humanitária, capaz de resgatar a cidadania e a
inserção social de uma população historicamente excluída. Um tratamento que não
se limite a prescrição indiscriminada de psicotrópicos, mas que tenha como
objetivo o bem-estar físico e psicológico do indivíduo.
Texto extraido de:
http://www.fev.edu.br/graduacao/breve_historia_da_loucura_e_a_luta_antimanicomial-30-artigo.html
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