A depressão não é uma doença que atinge
exclusivamente os adultos. Isso mesmo. Ela também ocorre em crianças. E pelas
peculiaridades da infância existem sinais que passam despercebidos. Entre as
principais causas encontramos a violência, o excesso de atividades (natação,
judô, balé, inglês...) e a pouca presença dos pais no dia-a-dia do filho. A
questão material também influencia: as crianças que equiparam a felicidade ao
dinheiro são mais propensas a sofrer de depressão do que aquelas que não dão
tanto valor à riqueza e à aparência.
Alguns temas que abordam aspectos emocionais
na infância são cercados de preconceitos, acarretando uma freqüente resistência
por parte da família, que busca justificar os comportamentos equivocados da criança,
designando alguém ou uma situação de “culpa”. O primeiro questionamento é:
“Onde foi que eu errei?”, ao invés de “como isso ocorreu?” ou “O que fazer?”. É
doloroso e quase incompreensível falar de depressão e suas conseqüências em um
pequeno paciente. E quando o fato evidencia-se de forma dramática nem sempre as
pessoas estão abertas para acessar a compreensão, a análise ou a pesquisa do
caso, estabelecendo-se “tabus”.
Reconhecer manifestações de depressão logo
cedo é importante, pois nem sempre estas são demonstradas através dos sintomas
tradicionais como melancolia, tristeza, retraído-calado, choro, sensação de
tédio, sofrimento por antecipação acarretando pessimismo, irritabilidade etc.
Existem outros indicativos de depressão em crianças que se apresentam com uma
roupagem disfarçada.
No que tange às crianças com menos de 5
anos, quando o vocabulário ainda é restrito, é fundamental que os pais, junto
com educadores, levem aos pediatras e psicoterapeutas observações como:
mudanças de comportamento rotineiro como insônia ou sono em excesso; anorexia
alternada com apetite insaciável (perda ou ganho de peso em demasia); mudanças
de humor (inclusive para bom humor); poliqueixosa (hipocondria, cheia das
dores); apatia (em atividades que antes pareciam agradáveis); desânimo para
levantar de manhã; distúrbios no aprendizado e fobia escolar; dificuldades na
comunicação; pouca criatividade (a escola deve observar em seus desenhos as
cores usadas – escuras, cinza...) e o enredo das histórias que acompanham seus traçados
no papel (faça um desenho e conte uma história); agressividade auto e/ou
heterodirigida (a criança não só chuta e xinga como se machuca); roer as unhas,
arrancar os cabelos e morder-se; baixa auto-estima demonstrada por timidez e
dificuldades de se posicionar perante o grupo; sentimento de rejeição; condutas
grosseiras e malcriação.
A criança tem seus gritos interiores e o
comportamento depressivo é um destes gritos. Entender tais manifestações é
relevante, pois é através desta linguagem que observamos os sinais de alerta.
Assim, dá-se conta de que algo deve ser revisto. Entender a criança é
fundamental para compreender as coisas simples da vida e relacionar-se melhor
com elas e com o mundo. Esteja sempre atento ao comportamento dos baixinhos.
Carlos Roberto Brunini
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